Massoterapia para pessoas cegas gera renda e combate capacitismo

No Brasil, instituições de reabilitação oferecem formação gratuita ou a baixo custo

Atuar como massoterapeuta e formadora de outros massagistas foi uma paixão inesperada na vida de Cláudia Lima, de 46 anos, moradora de Salvador (BA). Ela tem Síndrome de Marfan – enfermidade hereditária que provoca problemas cardíacos e oftalmológicos — e perdeu a visão aos 22 anos. “Me formei no magistério e tive o deslocamento de retina em uma aula. Fiquei sem perspectiva de trabalho até me falarem da massoterapia em uma instituição para cegos”, relembra.

“Em um primeiro momento, confesso que achei que não daria certo trocar a rotina intensa de professora por uma ocupação calma. Porém, senti uma paixão imediata pela massoterapia e passei a me focar em outras especializações e formações na área”, relata. Além de possibilitar renda e inserção no trabalho, a massoterapia para a pessoa cega é vista por Lima como ferramenta de inclusão e contra o capacitismo.

“É satisfatório poder cuidar e ser útil a outras pessoas. Isso mostra que nós cegos somos capazes e isso vai além do assistencialismo e capacitismo. Também combate preconceitos e o medo que as pessoas têm da deficiência”, analisa.

Leia também: Reforma administrativa pode prejudicar pessoas com deficiência que almejam concurso público, avalia especialista

Para fortalecer outras pessoas cegas, Lima criou uma pequena cooperativa chamada Massagem às Cegas. O coletivo conta com 12 profissionais e participa de eventos em empresas e comércios, onde atendem o público fazendo massagens.

Massagem às cegas
Projeto Massagem às cegas, em Salvador (BA). (crédito: divulgação)

“É um projeto desafiador porque tem uma logística grande e repartirmos todos os lucros. Por outro lado, os profissionais que participam tiveram a deficiência adquirida ao longo da vida e chegaram aqui mal, sem perspectivas, em processo de se reconhecer como pessoa com deficiência e com medo do julgamento alheio. Para eles, o projeto é positivo porque trabalha a inclusão social e também a economia solidária”, enfatiza Lima.

Toque singular

No Brasil, há uma tradição de centros de apoio e de reabilitação de pessoas cegas fornecerem o curso de formação profissional em massoterapia. Foi o caso de Flávio Mendes, de 47 anos, que teve contato com a técnica ao participar da Organização Laramara, em São Paulo (SP). Com baixa visão desde os 30 anos, ele foi obrigado a abandonar seu trabalho com pintura automotiva em oficinas mecânicas. “Demorei dois anos para aceitar o convite e foi quando eu descobri que tinha talento com as mãos”, relata o profissional.

“Para mim, é um momento de alegria saber que estou colaborando com a saúde de outra pessoa, que ela sairá da sessão renovada. Outro ponto é que, no trabalho, meus pacientes esquecem que sou deficiente visual. É como se isso não tivesse importância para o trabalho que realizo’, opina.

Também de São Paulo, Léia de Almeida Lemos, de 40 anos, perdeu a visão gradativamente entre os 14 e os 21 anos, quando ficou igualmente sem emprego. “Eu estava precisando de trabalho quando minha amiga falou do projeto Serenidade do Toque, que capacitava a pessoa cega e a encaminhava para postos de trabalho”, conta.

Projeto Massagem às cegas, em Salvador (BA). (crédito: divulgação)
Projeto Massagem às cegas, em Salvador (BA). (crédito: divulgação)

“Os meus clientes são receptivos e eu sinto que eu também ganho em termos de bem-estar quando estou trabalhando.

Para pessoas que não têm contato com PCDs, ajuda a aproximar realidades diversas e mostrar que não somos diferentes”, avalia.

O Brasil não é o único país com tradição em formar pessoas cegas para a profissão de massoterapeuta.

Na Coréia do Sul, uma legislação de 1913 determina que somente cegos podem exercer tal ocupação, com o intuito de garantir sua inserção no mercado de trabalho.

“Muitos acham que a massagem realizada pelo massoterapeuta cego será mais intensa. O que acontece é que, sem a visão, nosso tato é mais sensível e apurado. Pelo toque, sentimos os pontos de tensão e como agir”, descreve Lima.

Em suas formações com pessoas videntes, ela costuma vendar os participantes para que eles entendam melhor como é o toque da massagem sem o apoio da visão. “Vale ainda destacar que cada massoterapeuta cego, mesmo que formado nas mesmas técnicas, possui uma forma diferente de atuar. Tem sua singularidade”, conclui.

Mais informações sobre formação em massoterapia para deficientes visuais podem ser acessadas no site da Associação Massagem Feita Por Cegos.

Atuar como massoterapeuta e formadora de outros massagistas foi uma paixão inesperada na vida de Cláudia Lima, de 46 anos, moradora de Salvador (BA). Ela tem Síndrome de Marfan – enfermidade hereditária que provoca problemas cardíacos e oftalmológicos — e perdeu a visão aos 22 anos. “Me formei no magistério e tive o deslocamento de retina em uma aula. Fiquei sem perspectiva de trabalho até me falarem da massoterapia em uma instituição para cegos”, relembra.

“Em um primeiro momento, confesso que achei que não daria certo trocar a rotina intensa de professora por uma ocupação calma

Porém, senti uma paixão imediata pela massoterapia e passei a me focar em outras especializações e formações na área”, relata. Além de possibilitar renda e inserção no trabalho, a massoterapia para a pessoa cega é vista por Lima como ferramenta de inclusão e contra o capacitismo.

“É satisfatório poder cuidar e ser útil a outras pessoas. Isso mostra que nós cegos somos capazes e isso vai além do assistencialismo e capacitismo. Também combate preconceitos e o medo que as pessoas têm da deficiência”, analisa.

Para fortalecer outras pessoas cegas, Lima criou uma pequena cooperativa chamada Massagem às Cegas.

O coletivo conta com 12 profissionais e participa de eventos em empresas e comércios, onde atendem o público fazendo massagens.

Massagem às cegas
Projeto Massagem às cegas, em Salvador (BA). (crédito: divulgação)

“É um projeto desafiador porque tem uma logística grande e repartirmos todos os lucros. Por outro lado, os profissionais que participam tiveram a deficiência adquirida ao longo da vida e chegaram aqui mal, sem perspectivas, em processo de se reconhecer como pessoa com deficiência e com medo do julgamento alheio. Para eles, o projeto é positivo porque trabalha a inclusão social e também a economia solidária”, enfatiza Lima.

Toque singular

No Brasil, há uma tradição de centros de apoio e de reabilitação de pessoas cegas fornecerem o curso de formação profissional em massoterapia. Foi o caso de Flávio Mendes, de 47 anos, que teve contato com a técnica ao participar da Organização Laramara, em São Paulo (SP).

Com baixa visão desde os 30 anos, ele foi obrigado a abandonar seu trabalho com pintura automotiva em oficinas mecânicas. “Demorei dois anos para aceitar o convite e foi quando eu descobri que tinha talento com as mãos”, relata o profissional.

“Para mim, é um momento de alegria saber que estou colaborando com a saúde de outra pessoa, que ela sairá da sessão renovada.

Outro ponto é que, no trabalho, meus pacientes esquecem que sou deficiente visual. É como se isso não tivesse importância para o trabalho que realizo’, opina.

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