Marcas de roupa inclusiva buscam crescer ao dar destaque para a causa

Empresárias relatam dificuldade para atrair investidores e defendem papel de PCD como consumidor

Cintia Caroline, 37, começou a aprender braile para um projeto durante sua pós-graduação na área de artes e design.

Nesse processo, conheceu diversas pessoas com deficiência visual.

Em uma conversa, um amigo contou as estratégias que usava para decorar a cor das roupas que tinha no armário. A partir daí, surgiu a motivação para criar uma marca inclusiva.

Em 2016, surgiu a Costuras do Imaginário, cujas roupas possuem estampas em braile, além de indicações do tamanho e da cor das peças feitas no próprio tecido.

Hoje, a marca tem uma loja física em Belo Horizonte, mas faz a maior parte das vendas online. Cintia, que é formada em comunicação social, tem a ajuda de uma funcionária no estabelecimento e mais nove pessoas que trabalham na confecção das peças de acordo com a demanda

rt~lywrymkwntlo
Cintia Caroline, criadora da Costuras do Imaginário. A confecção faz roupas com detalhes em braile, como cor, tamanho, descrição das estampas e frases, para que as pessoas com deficiência visual possam saber o que estão vestindo. (Alexandre Rezende/Folhapress MPME) *** EXCLUSIVO FOLHA *** ORG XMIT: – Alexandre Rezende/ Folhapress

Marcas como a dela têm ganhado destaque e buscam investimento para crescer.

A Tico e Tica, de Curitiba, confecciona camisas para pessoas autistas e com transtorno de processamento sensorial (TPS).

As peças são feitas com materiais e aviamentos que não causam estranhamento na pele e têm uma modelagem adaptada. Além disso, não trazem etiquetas.

Visualmente, são peças comuns, seguindo uma proposta de inclusão social.

A designer de moda Júlia Nycolack, 26, começou a pensar na criação da marca quando seu filho de cinco anos recebeu o diagnóstico de autismo.

Ela diz que atualmente vende apenas camisetas adaptadas, mas já tem pesquisas e planejamento para produzir roupas de festa e pijamas.

O que falta são os investimentos.

Júlia conta que as poucas propostas que recebeu não eram justas ou factíveis. Uma pessoa já ofereceu um investimento de R$ 50 mil em troca da participação em metade da empresa. Após quase cinco anos de pesquisas e testes, ela iniciou as vendas em agosto deste ano, apenas de forma virtual.

Entre peças para adultos e crianças, as vendas vêm crescendo aos poucos, mês a mês.

Em agosto, foram 11 camisas, em setembro, 28, e em outubro, 71. Hoje, ela cuida da empresa sozinha, mas precisou terceirizar a costura.

Outro negócio que passa pela mesma situação é a Freeda, de Belo Horizonte, que faz roupas para quem tem mobilidade reduzida, incluindo pessoas com deficiência (PCD), idosos e pacientes em cuidados paliativos.

As peças possuem zíperes ou botões que permitem a abertura total da lateral, facilitando o processo de se vestir.

Os puxadores dos zíperes são feitos com argolas, e as bocas das calças têm ajuste com ímã, facilitando o uso de talas ou próteses, por exemplo.

De acordo com uma das fundadoras, Juliana Sevaybricker, 48, a empresa, que iniciou as vendas online em 2020, ainda não teve um crescimento significativo.

No entanto, ela e a sócia, Santuza Prado, passaram por uma aceleração e estão em busca de parceiros para o negócio

. Além das duas, a empresa conta com uma modelista e duas confecções terceirizadas.

Conheça marcas que trabalham com moda inclusiva para pessoas com deficiência

Uma estratégia usada por Silvana Louro, 62, CEO da Equal Moda Inclusiva, é vender os modelos nas versões adaptada e convencional.

Assim, consegue atrair público maior e gerar fluxo de caixa

A Equal, do Rio de Janeiro, faz roupas adaptadas para mulheres com diversos tipos de deficiência e restrições de mobilidade.

A empresa, que está há dez anos no mercado, conta com seis funcionárias fixas, mas tem uma equipe sazonal, que é contratada para produção de materiais de divulgação e eventos.

Para Josi Zurdo, 36, criadora da Via Voice, que faz roupas para pessoas com nanismo, uma grande barreira para conseguir capital é a falta de dados sobre esse público.

Após participar do reality show Shark Tank Brasil, ela acreditava que receberia propostas de investimento, mas todas as conversas eram cortadas quando ela dizia que não havia dados do número dessa população no país.

Para a publicitária Fatine Oliveira, ativista com deficiência e professora da pós-graduação em gestão de diversidade e inclusão nas organizações da PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), a falta de dados atinge todo o público PCD, principalmente em relação aos hábitos de consumo.

As pessoas ainda não compreendem esse nicho de mercado.

As empresas não entenderam o que nós queremos comprar ou quais critérios levamos em consideração. Esse tipo de pesquisa não é feito porque as empresas maiores não entendem que a pessoa com deficiência é um público.”

Ela atribui a falta de pesquisas e do entendimento dessa população como consumidora ao capacitismo, que é o preconceito direcionado às pessoas com deficiência.

Apesar da falta de dados, segundo o IBGE o número de PCDs no Brasil é de 18,6 milhões entre as pessoas com dois anos ou mais (8,6% da população).

Marca Costuras do Imaginário cria roupas com estampas em braile

As empreendedoras ouvidas relataram dificuldade para encontrar referências de marcas de moda inclusiva quando começaram seus negócios.

Cintia, da Costuras do Imaginário, diz que seu principal desafio foi a falta de outros empreendedores para trocar experiências.

Juliana, da Freeda, conta que conhece outras dez empresas que estão começando a trabalhar com moda inclusiva, todas com públicos um pouco diferentes.

Ela vê essas marcas como aliadas e enxerga um desafio em comum, o de fazer com que mais pessoas saibam dessas iniciativas.

Segundo Fatine, da PUC Minas, as empresas precisam entender que as pessoas com deficiência querem usar roupas que todo mundo veste.

Josi, da Via Voice, concorda. Ela diz que as pessoas com nanismo não querem uma loja específica, querem comprar suas roupas em shoppings.

Deixe um comentário

Carrinho de compras
Rolar para cima