A história da humanidade sempre foi marcada pela segregação das pessoas com deficiência, mudando muito lentamente através do tempos, de acordo com os modelos econômicos, religiosos e sociais.
Isso porque ao entender o homem como a imagem da perfeição, as pessoas com deficiência eram colocadas à margem da condição humana e tidas como culpadas da própria condição.
Nas sociedades primitivas, em função do Nomadismo, a seleção entre as pessoas com deficiências ou não, era natural pela necessidade de sobrevivência. Era exigido aos integrantes dessa sociedade, um biotipo que possibilitasse a sobrevivência.
Na Grécia, berço da civilização e pilar da sociedade, existiam duas situações distintas: em Esparta, as crianças disformes, franzinas e doentias, após serem submetidas a uma avaliação pelos anciões, eram exterminadas ao serem jogadas do alto do monte Taygetos ( mais de 2.400 m de altitude), caso possuíssem algum tipo de deficiência irreversível.
Em Atenas, os doentes e deficientes eram protegidos para desenvolver algum tipo de atividade produtiva ou sustentados por um sistema semelhante à Previdência Social, em que todos contribuíam para a manutenção dos heróis de guerra e de suas famílias.
Em Roma, os recém-nascidos com deformidades físicas eram mortos no momento do parto, por afogamento, pela própria família – Lei das XII Tábuas – tomando posições bem mais drásticas, como Sêneca:
Matam-se cães quando estão com raiva, exterminam-se touros bravos, cortam-se cabeças de ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas, matam-se os fetos e os recém-nascidos monstruosos: se nascerem defeituosos ou monstruosos afogamo-los, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis.
O povo Hebreu, assim como outros povos da antiguidade, segregavam as pessoas com deficiência, em contraponto os Hindus quando avaliavam o cego observavam nele a capacidade de enxergar o futuro.
Até o século XV, muitas pessoas com deficiência também eram acolhidas pelas igrejas pelos sentimentos de misericórdia e caridade e outras atuavam como ” bobos da corte”.
Na inquisição, pessoas com deficiência, principalmente os deficientes intelectuais, eram queimados na fogueira por serem considerados feiticeiros.
Durante o renascimento, novas ideias e transformações foram marcadas pelo humanismo e já na idade moderna surgiram os primeiros estudos para os problemas de cada deficiência.
No fim do século XVIII, a Revolução Industrial tomou grande impulso, priorizando a máquina em detrimento do homem, exigindo precisão, rapidez, regularidade e eficiência. Neste novo panorama, evidencia-se a abordagem de Taylor, o “pai da administração científica”.
Alguns pesquisadores afirmam que o regime taylorista imposto aos trabalhadores bloqueava o funcionamento espontâneo da atividade mental, pois estes não tinham controle sobre o processo de trabalho e muito menos se identificavam com o conteúdo das tarefas, por serem repetitivas e monótonas, gerando fadiga e estresse, sendo o corpo físico o principal ponto de impacto dos prejuízos do trabalho.
Na história recente ( 1939), observam-se políticas de extermínio e segregação, quando o nazismo se utilizou de procedimentos análogos aos da antiguidade em campos de concentração.
Ainda nos dias de hoje é comum ouvir cientistas propondo medidas eugênicas como forma de buscar, por meio de seleção genética, a reprodução de seres humanos perfeitos. Os eugenistas mais reacionários vão mais longe e preconizam a esterilização e eliminação das pessoas hereditariamente deficientes, a fim de melhorar a raça humana.
Mesmo com todo o descaso pelas pessoas com deficiência ao longo da história, importantes conquistas aconteceram no que diz respeito à legislação, assistência social, educação, saúde, lazer, transporte, mercado de trabalho, etc.
Essas conquistas não aconteceram por acaso, são resultados de lutas coletivas das organizações de/e para pessoas com deficiências, somado ao apoio das pessoas solidárias à causa.
Contudo, não haveria necessidade de tanta discussão a respeito deste tema, entre outros, se a Declaração Universal dos Direitos Humanos – assinada pelos países membros da ONU, em Paris, em 10 de dezembro de 1948 – fosse respeitada.
Art.I Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
Mesmo assim, os direitos humanos básicos são, ainda, rotineiramente negados a segmentos inteiros da população mundial nos quais se encontram muitos dos 600 milhões de criança, mulheres e homens que têm deficiência. Mais de dois mil anos se passaram e os motivos que continuam dando origem às deficiência são basicamente os mesmos, até os motivados por punições, pois em alguns países este ato ainda é praticado. Na atualidade, as deficiências são decorrentes dos seguintes aspectos sociais:
- Acidentes de trânsito;
- Falta de alimentação adequada;
- Violência urbana;
- Falta de saneamento básico e a insuficiência do sistema público de saúde;
- Aspectos culturais;
- Conceitos de justiça;
- Minas Terrestres ( antipessoais).
Fonte: Atendimento à Pessoa com Necessidades de Assistência Especial – PNAE/ SOUZA, Reinaldo João et al. Brasília, 4º ed, Infraero, 2017.