Dado é da pesquisa inédita do InfoJobs, empresa de tecnologia para recrutamento, em razão do mês da Luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência
Ninguém se entende quando o assunto é o número de pessoas com deficiência no Brasil.
Até bem pouco tempo, falava-se em “45 milhões de pessoas com alguma deficiência, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE”. De 2019 para cá, o mesmo IBGE apontou que 8,4% da população brasileira acima de dois anos de idade, cerca de 17 milhões de pessoas, têm algum tipo de deficiência.
A metade desse contingente é idosa.saiba mais
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Assim como qualquer grupo, com um quadro agravado pela pandemia há 18 meses consecutivos, encontrar – e se firmar – em um trabalho não tem sido fácil.
Eu diria que, para as pessoas com deficiência (sigla PcDs), a dificuldade de acesso se torna ainda mais cruel, devido ao capacitismo ou a discriminação e o preconceito social contra elas (em sociedades capacitistas, a ausência de qualquer deficiência é visto como “o normal”).
Agora, recebo dados inéditos de uma pesquisa InfoJobs, empresa de tecnologia para recrutamento, que confirma as queixas que estes mesmos profissionais cansam de relatar no LinkedIn, em eventos, em casa e para os amigos: “Preconceito”, “falta de oportunidade”, “ausência de plano de carreira” e “falta de adaptação das empresas às suas necessidades”.
Porque inclusão não é emprego, e sim autonomia.
Para 51% dos profissionais PcDs ouvidos pela pesquisa, a sua condição dificulta a busca por emprego, enquanto que apenas 18% acreditam que isso não atrapalha; outros 31% afirmam que, “às vezes, pode ser um empecilho”.
De acordo com o levantamento, 44% dos respondentes afirmam que já sofreram algum tipo de preconceito durante o processo seletivo por ter deficiência.
E, embora 56% neguem ter sofrido preconceito durante o recrutamento, 65% dos profissionais acreditam que não possuem as mesmas oportunidades no mercado de trabalho.
Essa é a mesma percepção dos profissionais não-PcDs que responderam à pesquisa. Para 82,1%, de fato, as oportunidades não são igualitárias.
Cerca de 80% dos PcDs acreditam que os processos exclusivos para o grupo podem contribuir com o aumento da inclusão no mercado de trabalho, reforçando a importância de políticas sólidas.
Na visão de 61% desses profissionais, as empresas não estão preparadas para contratar pessoas com deficiência. Entre os motivos, 57% apontam a falta de reconhecimento de seu potencial e 22% acham que os preconceitos internos impedem as empresas de contratar.
Número alarmante: 78% dos profissionais que participaram da pesquisa responderam que líderes e recrutadores já duvidaram da sua credibilidade no trabalho devido à sua condição.
“O papel do contratante é tornar o processo cada vez mais assertivo e diverso.
Mas, para além disso, é preciso fazer uma análise na cultura organizacional e nos processos, para que o ambiente de trabalho seja de fato inclusivo e que o profissional se sinta parte dos negócios”, me explica Ana Paula Prado, country manager do InfoJobs, plataforma que recebe mais de 19 milhões de visitas ao mês e agrega 42 milhões de cadastros.
Ana Paula acredita que os empregadores precisam compreender que é necessário aprimorar pessoas, estrutura, contratos e tudo o que for necessário para que todo o time esteja em sua plenitude. “Isso vai desde onde está sendo veiculada a vaga em aberto, porque ela também precisa ser plural e atender às necessidades desses grupos, e também deve se manter respeitosa e equilibrada até o final da jornada dentro da companhia.”
Na pele
Bruna Alves Martins, 27 anos, é uma das milhares de jovens com deficiência (em seu caso, auditiva) em busca de oportunidades. Pergunto a ela como anda o mercado para as pessoas com surdez profunda. “As empresas não têm interesse em pessoas com surdez profunda. Não há intérprete de libras em reuniões e comunicações dentro das empresas. Então fica difícil, no meu caso, acompanhar o que está sendo discutido. Infelizmente, parece que sou deixada de lado.”
É complicado encontrar uma empresa que esteja alinhada com as necessidades de um profissional PcD.
E Bruna me ratifica, infelizmente, que mudou muito pouco:
“A disposição das pessoas e empresas para inclusão dos deficientes, como acessibilidade no trajeto e dentro das próprias empresas para deficientes físicos, intérprete de libras para surdos, entre outros, continua muito falha.
Em muitos casos, ela é inexistente. Mas também não posso generalizar, pois outras tantas empresas já têm iniciativas de inclusão. Falta mesmo a reeducação cultural nas instituições”.
A pandemia, me descreve ela, só pirou o quadro:
“As vagas para PcDs diminuíram e se tornou muito difícil conseguir entrevista pela Internet.
E, quando precisa ir de forma presencial, é obrigatório usar máscara de proteção no rosto, o que dificulta a leitura labial para me comunicar”.