Vida sexual de deficientes ainda é um tabu pouco discutido
Cadeirante e deficiente físico desde os 3 anos de idade, hoje ele é casado e pai de 2 filhos.
Foi no atletismo que Wanderley encontrou uma forma de romper ainda mais os tabus.
Atualmente, aos 53 anos, ele é um dos campeões da corrida de atletas paraolímpicos da Universidade Federal do Acre. Inclusive, neste domingo, ele disputa mais uma edição da competição.
“Eu já me adaptei. Não tenho dificuldade para nada.
Terminei todos os meus estudos. Já aconteceu de ter preconceito. Nunca vai deixar de faltar”, disse sobre já ter sofrido algum tipo de discriminação.
Quando falamos de vida sexual para pessoas com deficiência, uma série de discursos preconceituosos surgem e escancaram a invisibilidade desse grupo. Por exemplo, a ideia de que essas pessoas podem e devem sentir ou proporcionar prazer, ainda causa [e não deveria], impacto para alguns.
Uma pesquisa publicada pela Universidade Federal de Sergipe, chamada Sexualidade das pessoas com deficiência: uma revisão sistemática, dos autores Alana Nagai Lins de Carvalho e Joilson Pereira da Silva, mostra que as discussões sobre a vida sexual de PCDs, diante das exigências impostas pelos padrões normativos, expõem alguns mitos construídos e disseminados em relação a vivência sexual dessas pessoas, descrevendo-as como: assexuadas ou pervertidas; que não precisam receber orientação sobre sexualidade; que são pouco atraentes e incapazes de manter um vínculo amoroso e sexual; têm disfunções sexuais; não necessitam de privacidade; merecem a piedade das pessoas; são estéreis, geram filhos com deficiências e/ou não tem condição de cuidar.
Essa visão preconceituosa foi vivida na pele por Wanderley e testemunhada por outros colegas, também PCDs, que dividem as mesmas experiências e dores.
“Existe mulher com esse preconceito, que fala assim – Ah! Não vou ficar com esse ‘aleijado’. Já aconteceu comigo uma vez.
A mulher não quis ficar comigo porque eu era deficiente. E com vários colegas meus também. Eu tenho um colega que conversava com uma mulher por telefone por um tempo. Quando ele foi buscar ela [para se encontrar pessoalmente], que ela viu que ele era cadeirante, ela nem entrou no carro e nem quis ficar com ele”, contou.
“O preconceito é a vida no dia a dia”, finalizou Wanderley.
Para romper preconceitos e combater a desinformação sobre a vida sexual deficientes, a Ação Social para Igualdade das Diferenças (ASID Brasil) e o Instituto Mara Gabrilli produziram a cartilha “Vivências da Sexualidade na Deficiência e a Compreensão de Gênero.
O projeto traz os principais desafios relacionados à conexão entre sexualidade e deficiência, como o estigma da incapacidade e principalmente da assexualidade.
“Esse equívoco está diretamente vinculado à crença de que pessoas com deficiência são dependentes e infantis e, portanto, incapazes de usufruir de uma vida sexual saudável”, explica a cartilha.
“A deficiência pode até comprometer alguma fase da resposta sexual, mas isso não impede a pessoa de ter sexualidade e de vivê-la”, completa.