*Por Talita A. Cazassus Dall’Agnol
Ver o mundo através da perspectiva do outro. Colocar-se no lugar do outro. Conexão.
Entendimento. Aceitação. Consideração. Acolhimento. Muitos são os aspectos que permeiam o conceito de empatia, essa habilidade psicológica que é fundamental para a promoção da inclusão em nossa sociedade. Mas, afinal, como utilizá-la para desenvolver um olhar empático e inclusivo?
Em uma animação feita por Brené Brown destacado por Christina Sackeyfio1, a empatia é representada por quatro atributos, quais sejam:
- Assumindo a perspectiva do outro: habilidade de se colocar no lugar do outro ou de ver a situação com a perspectiva da outra pessoa;
- Não julgar: habilidade de escutar o outro antes de chegar a uma conclusão;
- Reconhecer a emoção: habilidade de identificar o que o outro está sentindo e tentar sentir com sua própria pele;
- Comunicação: habilidade de verbalizar nossa compreensão acerca da emoção dos outros com o intuito de validá-la.
De fato, assumir a perspectiva de outra pessoa, ou se colocar no lugar do outro, nem sempre é uma tarefa fácil. Sobretudo, quando se trata de uma realidade diferente da sua. No entanto, isso possibilita ter uma compreensão mais significativa do que uma pessoa pode estar vivenciando, permitindo que se interprete os fatos fora de sua visão de mundo. Além disso, essa habilidade desperta um novo olhar para as necessidades e sofrimentos alheios.
A escuta ativa sem julgamento é igualmente importante, pois o foco passa a ser o outro e isso gera maior conexão. Já o reconhecimento da emoção alheia pode gerar vínculos afetivos de forma a estabelecer um espaço seguro e confiável. Portanto, ao entender e dar espaço a emoções, estamos nos permitindo entrar em contato com a humanidade do outro.
Verbalizar essa percepção emocional proporciona uma comunicação mais afetuosa, e como Marshall Rosenberg 2muito bem pontuou em seu livro, a comunicação não violenta torna-se mais fácil depois de mostrarmos empatia pelo outro, porque só assim teremos tocado sua natureza humana e percebido as qualidades que compartilhamos. Dessa forma, quanto mais nos ligamos aos sentimentos e às necessidades ocultas nas palavras das outras pessoas, torna-se menos assustador nos abrirmos para elas.
Esabela Cruz3 ao tratar da temática “Liderança Inclusiva” menciona a importância da empatia para iniciar diálogos humanizados, conversas difíceis que requerem reconhecer e acolher emoções, construir confiança e agir para promover um ambiente seguro.
Segundo a autora, para colocar a empatia em prática é preciso buscar conexão, observar sem avaliar ou julgar, identificando sentimentos e sensações por trás das palavras. É importante também manter contato com pessoas que são diferentes de você, que pensam diferente de você; além de mudar a maneira como se faz as coisas de forma a não ficar preso a determinadas crenças.
O olhar empático nos permite, portanto, enxergar o que há de mais humano no outro. E a partir dessa percepção aprende-se não só a respeitar, como também, a acolher as diferenças. E é isso o que torna a empatia uma habilidade fundamental quando se fala em inclusão social.
Para melhor elucidar a questão, trago um exemplo pessoal. Meu irmão autista sempre adorou festas de aniversário ( principalmente as festas de aniversário dele!). Contudo, a hora do parabéns era um momento de grande tensão… ele se escondia, passava mal e, certa vez, chegou a vomitar tamanho era o seu nervoso. Percebemos, então, que o barulho provocado pelo parabéns era o que o incomodava. No ano seguinte, fizemos uma festinha em uma casa de jogos em que havia uma parede de vidro, que foi inclusive a solução para a hora do parabéns: todos os convidados ficaram de um lado do vidro e o meu irmão ficou do outro lado.
A conclusão dessa história é que o olhar empático nos ajudou a compreender o universo do meu irmão, aquilo que tanto o angustiava, e a encontrar uma solução para que ele pudesse participar do parabéns!
Nesse sentido, a empatia permite que sejamos profissionais da educação mais atentos às necessidades emocionais dos alunos; permite que sejamos líderes mais conscientes das diferenças existentes entre as pessoas e que incentivem suas equipes a atuarem com empatia em suas interações; permite que sejamos cidadãos mais solidários e abertos a diversidade.
E, você, já se colocou no lugar de outra pessoa para buscar compreender as suas necessidades? A empatia é como um músculo que precisa ser exercitado.
Então, busque fazer esse exercício empático todos os dias: em casa, no trabalho, na escola…
Só assim será possível compreender o universo do outro, suas emoções, suas vulnerabilidades, seus anseios, de forma a desenvolver um olhar empático que respeite e visibilize grupos minorizados, como as pessoas com deficiência, pessoas negras, LGBTQIAPN+, pessoas idosas, dentre tantos outros. Só assim será possível promover a inclusão social!
- https://charityvillage.com/empathy-a-key-ingredient-in-effective-diversity-equity-and-inclusion/ ↩︎
- Rosenberg, Marshall B. Comunicação não violenta. 5a Edição:São Paulo. Editora ÁGORA, 2015. ↩︎
- Cruz Esabela. Liderança Inclusiva: O futuro chegou. ele é diverso e precisa também ser inclusivo. in Amato, Luciano. Diversidade e inclusão em suas dimensões/ Coordenação Luciano Amarato – São Paulo, SP: Literare Books International, 2022. ↩︎
Edição: Gilson de Souza DANIEL